Em
determinado período da antiguidade, supostamente de uma raiz preservada
pela tradição Egípcia, um corpo de conhecimento se codificou para o
entendimento do homem perante as obras da natureza e a força que a
gerou.
Esse conhecimento, segundo alguns foi herdado de outras fontes na
qual se perdem na bruma obscura da história sua exatidão; uns citam
Anjos, Deuses, Homens da Era de Ouro, Atlantes, Lemurianos, Habitantes
de outro Planeta, etc.
Tendo em vista o conhecimento em um aspecto geral de tal tradição e
sua essência para introdutoriamente enxergarmos métodos de transformação
construtivos e evolucionista, cremos não ser necessário termos definida
certeza de sua origem, e sim sua utilidade. Mas, para situarmos
especificamente a via desse corpo de conhecimento e sua ação até os dias
de hoje em todas as culturas, religiões e filosofias, é mister ao menos
sabermos um pouco do porque da alcunha de Hermetismo.
Segundo fontes, as escolas de mistérios fundadas no Egito estavam
passando por problemas devido a guerras com povos de outras tribos,
alguns falam dos Hicsos, que segundo etimologia dada
por Manetón (Sacerdote egípcio de Heliópolis, no sec. III ac.) eram os
reis pastores cultuadores do deus Seth-Tifon(1). Naquela época a
corrupção no próprio reinado estava ocorrendo, e muitos dos sacerdotes
das escolas externas do saber se curvaram diante dos inimigos.
No intuito de preservar a tradição, os altos sacerdotes da escola de
mistérios (Kheri Hebs) resolveram codificar esses conhecimentos para com
que os mesmos não se perdessem. Uma das formas dessa codificação foi o
uso dos símbolos, Hieróglifos, e sua aplicação camuflada em algo comum
ao cotidiano do povo, para que poucos entendesse a real mensagem que ali
se velava, não jogando assim, as perolas aos porcos(2). Outro meio foi o
uso de termos Princípios, que viessem a expressar em formas de Leis que
se caracterizariam como fatos da naturalidade divina; eis a possível
origem do Taroth, e dos preceitos Herméticos ao qual faz menção o
Caibalion, foco desse simples e respectivo ensaio místico histórico, e
que será melhor explorado na segunda parte desse pequeno tratado.
Naquele tempo, possivelmente entre a IV e X dinastia, existiu um
sábio Kheri Heb ao qual veio a ser identificado em uma variável grega
pelo nome de Hermes Trismegistos. Defende-se que Hermes viveu entre o
ano de 2000 antes de Cristo, justamente no período em que o Egito estava
sendo assolado pelos reis pastores Hicsos; outras fontes de pesquisas
fazem referência a Hermes como um personagem mitológico ou alegórico.
A personalidade de Hermes até os dias de hoje é alvo de muitas
interpretações; seu nome faz referencia a divindade Grega Hermes, o
mensageiros dos deuses e também ao seu equivalente egípcio Thot o deus
com cabeça de Íbis, o escriba da sabedoria; mencionam que devido a seu
papel fundamental e importante na Tradição, o celebre sábio foi
divinizado e incorporado ao panteão dos Deuses.
Em outras linhas esotéricas, há similaridade com a história de Thot /
Hermes também é relacionada com a personagem da tradição
caldeu-hebraica Enoch, conhecedor das ciências, testemunha da relação
entre anjos e filhas dos homens, abençoado com o saber da magia, e
alquimia divina, sétimo da geração de Adão, ao qual dizem que foi
arrebatado vivo, e incorporado a classe das hostes celestes e que, para
alguns adeptos, é tido hoje como o Arcanjo Metatron, arcanjo da Sephira
de Kether na mitológica Otz Chiim (Árvore da vida).
Voltando a seu enigmático papel, dizem que Hermes, o Três Vezes
Grande, (trismegisthus), instruiu poucos adeptos, mas que de sua
linhagem derivou-se alguns alunos que, para preservar a memória e o
método do mestre, criaram a escola ou como denominam alguns, a
Universidade de Hermes, de onde derivam vários escritos atribuídos ao
mestre.
Dentre os escritos atribuídos a Hermes (ou a sua escola), existe um
total de 2 (duas) mil obras, a maioria advinda diretamente de sua
linhagem/método que se imortalizou pelo termo de Hermetismo.
Dos escritos mais populares associados a Hermes, temos:
· Asclepios: Em latim seu titulo completo é conhecido como “livro
sagrado dedicado a Asclépio”. Ha dados que comprovam sua existencia
desde o início do século IV dC, mesmo assim, ainda é impreciso sua real
data de origem. Sua composição foi elaborada em formato de diálogo entre
Hermes Trimegisto e seu discípulo Asclépio (vemos referencia a figura
de Aesculapiu/Ἀσκληπιός/Asklēpiós o deus da Medicina damitologia greco-romana),
que contem exposições a respeito da iniciação nos mistérios sagrados, e
sobre a origem e a natureza da humanidade.
· Poimadres: referido como um texto complementar da Tabua de
esmeraldas,faz alusão a deidade Poimandres, responsável pela mente e
pela luz da alma na humanidade. Simbolizado na forma de um dragão que
muitas vezes assumia as cores da Grande Obra, visto como o ser que abria
as portas do mundo invisível para os homens. Também chamado de O Dragão
da Sabedoria.
“Essa ciência antiga achava que existia no invisível um tipo dos
diferentes seres que vivem sobre a terra, e que esse tipo era um pouco
modificado pelo meio em que vivia o ser em questão. Assim, o tipo “Cão”
se econtrava ligeiramente modificado:
No éter, ou no mundo das forças estelares, ditas “astrais”, mundo
do fogo, não o fogo físico, mas a energia. Nesse plano, o tipo se
tornava o “Cão de fogo” ou “Dragão Astral”, tão bem conhecido dos
chineses.”
Papus – Abc do ocultismo, Ed.Martins Fontes.
O escrito hermetico de Poimadres narra o belissimo dialogo entre essa
divindade e o mestre Hermes. Segue abaixo um pequeno trecho:
Hermes Trismegistus, Trêz Vezes o Grande, caminhava por um
estranho rochedo e decidiu meditar. Fechou seus olhos e, respondedo às
leis divinas, viu-se dentro do mundo invisível. Uma vez lá deparou-se
com o grande dragão da sabedoria, uma figura imponente cujas asas
cobriam o Sol como nuvens imensas emitindo raios luminosos:
Dragão Poimadres:
- Hermes Trismegistus, o Três Vezes o Grande, por que tentas adentrar o mundo invisível?
Espantado com aquela figura, Hermes Trismegistus abaixou a cabeça como símbolo de humildade e respeito, e disse:
- Nobre criatura. Embora vós sabeis meu nome, eu não sei o vosso. Como eu poderia comprimentá-la? Sua presença me enche de honra
Responde o Dragão:
-Chamo-me Poimandres. Sou a mente e a luz do universo. Sou eu
quem transmito a inteligência e a criatividade para a mais ignorante das
criaturas.
Hermes:
-Sublime! Conduzai-me pelos mundos invisíveis.
Poimadres:
-O que desejas encontrar lá, Hermes? Quais são suas intenções?
Hermes:
-Tenho em mente ajudar a humanidade. Eu amo todas as pessoas.
Após um exame na mente de Hermes Trismegistus, Poimandres
percebeu o afeto de Hermes pela humanidade e a compaixão que sentia pelo
seus sofrimento.
Poimadres:
- O que diz é verdade,- concordou Poimandre – Tu terás minha ajuda em sua santa tarefa.
Então, fez-se luz do dragão e, dessa luz, surgiu uma ponte pela qual Hermes Trismegistus caminhou.
Hermes Trismegisto, Poimadres.
· Tabua de esmeraldas: texto base para os postulados tanto da
alquimia como da magia no ocidente; nesse texto Hermes não so traz a luz
o grande arcano, como tambem afirma sua natureza tripla (Trismegistos)
detentor da filosofia universal.
É verdade, certo e muito verdadeiro:
O que está embaixo é como o que está em cima e o que está em cima
é como o que está embaixo, para realizar os milagres de uma única
coisa.
E assim como todas as coisas vieram do Um, assim todas as coisas são únicas, por adaptação.
O Sol é o pai, a Lua é a mãe, o vento o embalou em seu ventre, a Terra é sua alma;
O Pai de toda Telesma do mundo está nisto.
Seu poder é pleno, se é convertido em Terra.
Separarás a Terra do Fogo, o sutil do denso, suavemente e com grande perícia.
Sobe da terra para o Céu e desce novamente à Terra e recolhe a força das coisas superiores e inferiores.
Desse modo obterás a glória do mundo.
E se afastarão de ti todas as trevas.
Nisso consiste o poder poderoso de todo poder:
Vencerás todas as coisas sutis e penetrarás em tudo o que é sólido.
Assim o mundo foi criado.
Esta é a fonte das admiráveis adaptações aqui indicadas.
Por esta razão fui chamado de Hermes Trismegistos, pois possuo as três partes da filosofia universal.
O que eu disse da Obra Solar é completo.
Para finalizar essa primeira parte de nossa introdução ao hermetismo e
ao caibalion, expomos a tese de que os postulados do Hermetismo
atualmente se caracterizam em um conglomerado de influencias filosóficas
e culturais predominantemente gregas e egípcias, em conjunto com varias
outras vertentes; dentre tais, cabalísticas, zoroastrianas,
mesopotâmicas, sumerianas; que por sua vez veio a se mesclar e
adaptar-se a uma estrutura base que culminou com o surgimento dos dogmas
da Magia, e Alquimia no ocidente.
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NOTAS
*1- Seth-Tifon, era identificado com muitos outros animais, desde o
porco, ao asno, e o crocodilo. Chegou a ser venerado como deidade
benfazeja, senhor do Alto Egito durante as primeiras dinastias; mas com o
passar dos tempos tornou-se a personificação do mal, um ser que
ameaçava periodicamente a ordem. Ficou popular no delta oriental por
semelhanças com o deus sírio Baal, um dos prováveis motivos para os
povos hicsos vislumbrarem nessa figura seu deus protetor e amado.
Maneton (Sec. III a.c) autor da Aegyptiaca, em grego, na qual faz uma
descrição da história passada do Egito, fala da invasão do Egito pelos
hicsos. Mas a informação mais interessante está no seus textos sobre os
judeus preservados no Contra Apionem de Flávio Josephus:
“ao serem expulsos do Egito vão os hicsos para a Síria e aí, temendo o
poder dos assírios, que então eram os senhores da Ásia, eles
construíram na terra, agora chamada Judéia, uma cidade grande o bastante
para suportar todos aqueles milhares de pessoas, e lhe deram o nome de
Jerusalém”.
Nesse caso, Maneton supõe que hicsos e hebreus sejam os mesmos, ou, pelo menos, parentes.
Teoria por demais interessante, pois o escritor grego do século III a.C.
Manaseas, da cidade de Patara, na Lícia; discípulo de Eratóstenes,
menciona um culto estabelecido pelo povo hebreu ha uma cabeça de asno,
um dos animais ligado a Seth; alem de que a palavra IAO (Iahweh) é, além
disso, semelhante à palavra egípcia para asno, o que certamente faz
surgir a lenda do culto de uma cabeça de asno.
*2 – A citação “jogar perolas aos porcos” especificamente no contexto
desse texto pode encontrar afinidades interpretativas ao se analisar a
figura do deus Seth adorado pelos Hicsos. Que de acordo com a mitologia
egípcia era representado também como um porco; segundo o historiador
Heródoto, os egípcios consideravam os porcos como animais imundos, e
repugnantes. Historiadores afirmam que tal aversão é relacionada com a
briga entre Seth e Hórus. Numa passagem do livro dos Mortos do antigo
Egito, versão do Historiador e místico Wallis Budge conta-se uma lenda
segundo a qual, em tempos muito remotos, Seth, assumindo a forma de um
porco preto, tentou contra a vida do filho de Osiris. Outra passagem
cita a morte de Osíris por um porco selvagem. Os sacrifícios desses
animas eram portanto, um ato de vingança infligido ao assassino de
Osíris que tinha assumido a forma de um porco negro. Segundo alguns
defensores de que a tradição hebraica primitiva era herdeira do
monoteísmo egípcio estabelecido por Akhenaton (Amenófis IV, XVIII
Dinastia) afirmam de que é devido a tal mito o fato do povo hebreu não
consumir carne de porco e considerá-lo um dos animais impuro, propicio
para abrigar uma legião de seres de níveis hostis. Uma herança cultural
religiosa inserida e adaptada a outro circulo de credo.
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA E RECOMENDADA:
· Budge, E. A. Wallis – Livro dos Mortos do Egito. Ed. Pensamento;
· Freud, Sigmund – Moisés e o monoteísmo. Ed. Imago;
· Yates, F. A. – Giordano Bruno e a Tradição Hermética. Ed. Cultrix;
· Trismegistos, Hermes – Corpus Hermeticum, Discurso de Iniciação – A Tábua de Esmeralda. Ed. Hemus;
· Três iniciados – Caibalion. Ed. Pensamento;
· Westcott, Willian Wynn- Coletânea Hermética, Ed Madras;
· Feather, Robert – O Mistério do Pergaminho de Cobre de Qumran, o registro dos Essênios do tesouro de Akhenaton. Ed Madras;
· Papus – ABC do Ocultismo. Ed.Martins Fontes;
· Herodoto – História. Ed. UNB.
INTERNET:
· JOSÉ LAERCIO DO EGITO – THOTH, DIVINDADE EGÍPCIA
· FERNANDO LIGUORI – A TRADIÇÃO TIFONIANA
· O DEUS DO MAL – HAVIA AINDA UM OUTRO ANIMAL
Texto escrito pelo ASNA, um dos autores do blog O Alvorecer.