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1 de jul. de 2012

Vacina contra o cigarro


Quem é ou já foi fumante sabe o apocalipse que é ficar sem fumar. O corpo e a mente reagem: raiva, angústia, inquietação, desespero, depressão e MUITA fissura. Mesmo quando a pessoa consegue parar de fumar, o vício fica ali na sombra espreitando, aguardando aquele dia em que algum problema surge ou algumas cervejas a mais afrouxam as defesas para seduzir o ex-fumante com a idéia de uma recaída.
Por trás de tudo isso existe um bocado de neurônios com o funcionamento alterado por tanta exposição à nicotina. Essa substância age em diversos sistemas de neurotransmissão diferentes (como dopamina, glutamato e acetilcolina) e obviamente esses sistemas se adaptam à ativação excessiva deles ocasionada pela nicotina. O que acontece é que essas vias neurais já não funcionam mais como as de um não-fumante e quando a pessoa larga o cigarro, a falta de nicotina faz com que sistemas acostumados a agir na presença dela fiquem prejudicados e necessitem de um tempo para se readaptarem.
O problema é que na prática, essa readaptação é praticamente uma visita ao inferno  e nesse meio tempo uma recaída acaba fazendo com que tudo seja perdido e a pessoa tenha que recomeçar a tortura. Mas e se uma vacina garantisse que essas recaídas não irão mais acontecer quer a pessoa queira quer não?
Pois essa é a promessa do Dr Crystral, criador de uma vacina que permite que os próprios anticorpos do indivíduo desenvolvam imunidade contra a nicotina. Essa idéia já foi testada mas como foi feita com anticorpos que já vinham presentes na vacina, necessitava de muitas doses frequentes e de valor pouco acessível. Dessa vez o plano é uma única dose imunizando o indivíduo contra a nicotina para o resto da vida.
Os pesquisadores pegaram uma sequência genética de um anticorpo contra a nicotina criado por meio de engenharia genética e colocaram em um vírus que serve como vetor. Esse vírus é criado para ser inofensivo, servindo apenas como agente de entrega da informação genética. Além disso, foi adicionada informação ao vírus para direcionar a vacina até os hepatócitos (fígado) e essas células começaram então a produzir um fluxo constante de anticorpos contra a nicotina.
Os exames de sangue comprovaram a existência dos anticorpos na circulação dos camundongos utilizados no estudo. Ao tratar esses animais com nicotina, foi observado que pouquíssima quantidade da droga estava atingindo o cérebro e o sistema cardiovascular, demonstrando que os anticorpos realmente agiram sobre a nicotina. O próximo passo agora é testar em ratos e posteriormente em primatas.
Mas se isso funcionar quais as implicações? O fumante vai saber que não adianta ter recaída pois não vai sentir os efeitos da nicotina e vai parar de fumar na marra. O lado bom é que essa tecnologia ofereceria uma escolha para pessoas realmente interessadas em se livrar de um vício que todo mundo já está cansado de saber o que causa e o quanto mata. Entretanto questões éticas podem começar a surgir pois obviamente muitos pais vão querer vacinar os filhos para prevenir que estes algum dia resolvam ser fumantes. Certamente surgiriam questões sobre escolha e livre arbítrio mas que é cedo demais para se levar em conta uma vez que tal vacina ainda é uma possibilidade e não uma certeza.

Fonte: stm.sciencemag.org

Um comentário:

  1. Muito bom o texto gostei muito!

    Aproveitando para lançar uma discussão: (rss)
    Me parece estranho que a questão da vacina gere algum impasse, já que ela não elimina o direito de fumar(estritamente) apenas o vício ... Será que ter o direito de se viciar é algo que mereça ser discutido? Cairemos no problemas das drogas no geral...

    O estado tem que zelar pela saúde de seus cidadãos e ninguém pergunta se a criança quer ter o direito de ter paralisia infantil, apenas lhe dão a vacina, que por sinal é obrigatória! Essa lógica ja foi pensada na minha opnião.

    Alguém mais acha alguma coisa ? rss

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Acesse o Artigo Original em: http://www.querocriarblogger.uni.me/2012/01/como-colocar-paginas-numeradas-no-blog.html#ixzz1jC8zw1Dt