Venho aqui para preencher o vazio desta folha que me assola, me incomodo com ela porque ela me personifica. Estou vazio e sei disso... E não se trata de um vazio yogico desses com flores de lótus e incenso, tão pouco se trata do vazio purulento causado pela indiferença com relação a própria história. Estou vazio e muito denso - um paradoxo para o leitor - como quem se empanzina durante as refeições dominicais ganhando energia e inércia ao mesmo tempo. Este é o potencial das ideias que carrego.
Contemplo o tempo que passa nesta sala sem que cause grandes urgências na vida, mas sem remover o que há de inerte do caminho. Para mim a irrelevância é marcante em tudo, em todo o óbvio... Tudo quanto escorre do homem é cheio de competição demais e carente em esportividade. Resultado, o mundo é a figuração de perpétuos cansados, de mãos e pés ralados, com olhos fincados nas costas do competidor a sua frente - olhos inúteis a paisagem mas devotos das tarefas. Sinto que corremos em círculos, portanto, depois da primeira volta perde-se o sentido da tarefa, e aos poucos, perde-se também o próprio sentido de orientação . Todo círculo cumpre sua função na primeira volta.